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A disciplina da adoração - parte 1

  • Aline Ribeiro Silva
  • 5 de nov. de 2015
  • 5 min de leitura

Voltar ao essencial é uma prática necessária. Mesmo depois de dominar uma pirueta tripla ou os admirados 32 fouettés, não se pode descartar os exercícios de pliés e tendus. Também não se pode descartar as reflexões sobre a essência de nosso ministério, mesmo depois de uma longa jornada. Aliás, voltar aos rudimentos é um princípio básico do crescimento saudável, da construção sólida e segura.



Este post volta, então, a se debruçar sobre o princípio do ministério de dança: a adoração. As reflexões que seguem estão baseadas em um livro genial e inspirado chamado Celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual, de Richard J. Foster. As "disciplinas" são coisas que fazemos, ou deveríamos fazer, para crescer em Deus. São ações interiores, exteriores e coletivas. Dentre as ações coletivas, realizadas na comunidade ou para a comunidade cristã, está a Adoração. Veja que o subtítulo do livro é "o caminho do crescimento espiritual", por isso a adoração aqui não é tratada como um ministério, mas um conjunto de práticas diárias individuais e da coletividade cristã. Apesar de completo e eloquente, vou me permitir fazer interferências no fluxo de ideias de Foster para trazer reflexões específicas sobre a nossa vivência no ministério de dança.


Segundo o autor, a adoração pode ser entendida como uma experiência da realidade do Cristo ressurreto. A partir de João 4:23 [Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem], podemos entender que o Pai ativamente procura os adoradores. Foi assim no Édem, quando Deus procurava por Adão ao entardecer, foi assim na cruz, quando Jesus procurou por mim e por você no Calvário, para reunir-nos a Deus. Assim, "a adoração é a reação humana à iniciativa divina". Portanto, o que nos eleva à esfera da adoração é sermos tocado por Deus. E isso independe dos meios e formas. Como já dissemos, a adoração não está contida na dança, apenas se expressa por ela, porque nossa limitação humana precisa da materialização das coisas espirituais. É como expressamos, na nossa linguagem humana, a reação às demonstrações de amor que Deus nos faz diariamente.


É necessário dizer que Deus é o objeto de nossa adoração. Não deveria, mas é necessário. E quando nos aproximamos de Deus, quando nossa pecaminosidade é colocada em contratste com sua santidade, a confissão se torna incontrolável. Como fez Isaías, que diante da visão da glória de Deus, temeu e confessou ter lábios impuros e viver em meio a pessoas impuras. Assim, o Senhor o purificou. Quando chegamos perto de Deus, temos a chance de ser transformados.

Precisamos ter cuidado para não colocar o ministério antes da adoração, para não inverter a ordem. A prioridade é a adoração e ela é que vai gerar o serviço, o ministério. Se chamamos o Senhor de Senhor, precisamos dar dignidade a esse posto, fazendo da adoração uma prioridade em nossas vidas. Afinal, o primeiro mandamento dado por Jesus é "amar a Deus sobre todas as coisas". Veja, a arte é tão fabulosa e envolvente que desviar nosso foco para ela é fácil. E isso é idolatria: desarranjar a ordem da hierarquia, colocar qualquer outra coisa ou pessoa no lugar de excelência que pertence a Deus. Colocar até mesmo nossos afazeres na igreja antes da adoração á idolatria. Como podemos entender isso no nosso cotidiano? Se temos tantos compromissos eclesiásticos que não nos resta tempo de qualidade para orar ou para testemunhar de Deus em nossa família e círculos sociais, corremos o risco da idolatria. Se ficamos tão apegados às sequências de passos que não deixamos fluir o agir do Espírito Santo, corremos o risco da idolatria.


Aliás, deixar que Jesus conduza a adoração é reconhecê-lo como Senhor, como o verdadeiro Líder do ministério. Com isso, Foster indica que Jesus Cristo permance presente e interagindo com seu povo durante a adoração. Vamos lembrar a primeira função dos levitas, dos que praticavam a adoração com sacrifícios, nos moldes do Antigo Testamento; sua primeira função era se aproximar de Deus e achegar o povo a ele. Interação. Quando adoramos, Jesus se manifesta não só como Salvador, pelo que o louvamos incessantemente, mas na plenitude de sua natureza. Ele também age como Profeta, como Cura, como Rei. Seguindo as instruções de Jesus, não devemos nos espantar ao presenciar milagres durante a adoração, e Atos não estará apenas nas páginas da Bíblia Sagrada, mas entrará em nossas biografias pessoais.


Não se trata de caos ou desordem. Pelo contrário, trata-se de abrir mão da nossa ordem humana (quase compulsiva para aqueles que respiram a dança, que precisam enxergar a harmonia e a graça estética em todas as coisas) e entregar o curso das coisas nas mãos de Deus, o Artista. Nesse ponto, talvez alguém pense que a liderança humana é dispensável, bem como ensaios. De forma alguma! O próprio Espírito nos entrega os dons da liderança (Efésios 4:11) e por toda a Bíblia estão presentes lideranças nos grupos de pessoas para que haja organização e responsabilidade, para a edificação do Corpo.


Então, dando vazão às obras de Jesus, a voz de Deus (Kol Yahweh) poderá ser ouvida na igreja. Quando o sacerdote entrava no Santo dos Santos, havia a expectativa da manifestação de Deus. Ele e toda a comunidade tinham certeza de que algo sobrenatural aconteceria. Creio que muitas vezes nos falta essa expectativa. E o que vai resgatá-la em nosso coração é o dia-a-dia com Deus. Se orarmos sem cessar, como Paulo nos orienta, se observamos o agir de Deus nas coisas que acontecem conosco, então poderemos crer que, se Deus se manifestou em nós quando fazíamos nossas tarefas diárias, quanto mais na sua Casa, no meio do seu povo! O cotidiano e as experiências diárias com Deus são capazes de reforçar a nossa fé e a certeza de que o Deus de maravilhas atuará também no meio do seu povo.


Preparar-se para a adoração não é mais um banho ritual, ou se ornar com roupas especificas apenas, mas encher o coração da presença de Deus. Afinal, pelo sacrifício de Jesus, estamos no Santo dos Santos o tempo todo. E estamos nesse lugar maravilhoso juntos! Aqui quero incentivar a prática da dança coletiva na igreja, coisa que esquecemos há alguns séculos. A adoração coletiva é praticada através da música. Mas por que não através da dança também? Em datas comemorativas com toda a igreja, ou nos cultos regulares, com pequenos gestos durante as músicas de louvor, ou com expressões corporais, como se ajoelhar, saltar ou erguer as mãos, o que realmente importa é que a adoração coletiva nos permite experimentar a verdadeira união do Corpo pelo Espírito, a koinonia.


"Em casa, em minha casa, não há nenhum aconchego ou vigor em mim, mas na igreja, quando a multidão se ajunta, um fogo se acende em meu coração e extravasa"

Martinho Lutero


Então, por esta semana, vamos pensar em melhorar nossa concepção de adoração. Não só a ideia, mas a prática. Chegar mais perto de Deus, ser tocado pela sua presença e prestar adoração irresistivelmente. Ser mudado por isso. Cultivar o relacionamento com Deus em busca da Kol Yahweh e a adoração coletiva em busca da koinonia. E vamos descobrir mais sobre Deus.


Fazer isso é o desafio para a semana. Enquanto o próximo post não chega, vamos compatilhar uns com os outros sobre nossas experiências? Vamos aumentar a comunhão do Corpo.




Foster, Richard J. Celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. São Paulo, Ed. Vida: 2007 [1978].




Este vídeo é bastante... pitoresco. E lindo! Gosto muito dele. Mostra uma celebração tradicional do Shavuot (Pentecostes) na cultura judaica. As danças coletivas são fundamentos dessas lindas festas bílbicas. E veja só a alegria incontida dessas pessoas. A alegria é mais forte para libertar do que a vergonha para suprimir a necessidade de dançar para Deus! Também vemos danças coreografadas. E todas as formas de expressão adoram ao Senhor.



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