Fundamentos bíblicos da Dança
- Aline Ribeiro Silva
- 28 de jan. de 2016
- 4 min de leitura
Sim, a dança na igreja tem fundamento bíblico. E bem claro. Quero apresentar para vocês um livro muito bom, que me ajudou a ver a dança sob outras perspectivas e a inseri-la (ou ao menos tentar) na rotina de toda a igreja. Dançai de alegria: uma abordagem bíblica sobre louvor e adoração, de autoria do rabino messiânico Murray Silberling, apresenta a dança organicamente integrada às praticas bíblicas de louvor. Neste post vamos apresentar tópicos do capítulo 1, “Fundamentos bíblicos da dança”. Mas recomendo sinceramente que a leitura da obra seja feita na íntegra: o livro é curto e edificante.

É notório que os avivamentos espirituais são envolvidos geralmente pelo resgate de formas antigas de adoração, como se retomar as práticas do passado nos levasse também àquele relacionamento mais íntimo com Deus, como houve outrora. Por isso a dança toma cada vez mais espaço nas igrejas que buscam o avivamento do Espírito Santo, e que aguardam ansiosamente a volta do Noivo, tão breve. De fato, a dança havia sido esquecida nas liturgias cristã há alguns séculos. Isso é assunto para outro post, talvez. Porém, as menções bíblicas à dança são muitas, mais do que podemos perceber nas traduções para o português. Há diversas palavras hebraicas que designam movimentos. Há passagens, inclusive, que nos mostram o próprio Deus dançando.
“O Senhor, o seu Deus, está no seu meio, poderoso para salvar. Ele se regozijará em você; com o seu amor a renovará, ele se regozijará em você com brados de alegria”.
Sofonias 3:17
A palavra traduzida por “regozijar” no original hebraico é yagil, que significa “rodopiar de alegria”. Imagine só, nosso Deus em toda sua glória dando piruetas de alegria porque nos achegamos a ele. Ao longo da bíblia há 13 expressões que traduzimos por “regozijo” ou “alegria”, mas que na verdade expressam movimentos como saltar e rodopiar. Estudos recentes indicam que, no aramaico, as palavras “regozijar” e “dançar” são iguais, o que sugere que não seria possível separar alegria e dança: toda alegria seria expressa em danças e toda dança seria uma manifestação de alegria!
A narrativa de Juízes 21 indica que anualmente se realizava uma celebração em Siló devido às colheitas. A palavra que aparece em hebraico é lachul, derivada de chul, que indica uma dança comunitária, em roda. Nessa ocasião, toda a comunidade dançava para render louvores a Deus por ter garantido a colheita. A palavra chag, geralmente traduzida por “festa”, também teria um significado original ligado às danças coletivas, provavelmente uma dança sacra realizada ao redor do santuário. Assim, dada a semelhança entre as palavras “regozijo”, “festa” e “dança”, podemos inferir que a dança era uma expressão comum de alegria e louvor. Já falamos aqui sobre a dança de Miriã, uma expressão de alegria e celebração pelo livramento dado por Deus com relação ao Egito. Essa dança de Miriã se tornou tradicional na celebração do êxodo, ou da páscoa, porque marcava o fim da escravidão e o início da liberdade.
Não só as festas relacionadas à agricultura e as vitórias militares eram marcadas pela dança. Todas as etapas importantes da vida dos hebreus eram marcadas por festas e danças: desde a circuncisão (pidyon haben), passando pela chegada dos 12 ou 13 anos (bar mitzvah ou bat mitizvah), até o casamento. A vida do próprio Jesus certamente foi cheia de danças de louvor. Até hoje nenhum casamento judaico é devidamente celebrado sem as danças tradicionais: imagine Jesus dançando depois de seu primeiro milagre, no casamento para o qual fora convidado em Caná (João 2).
O rei Davi é sempre citado como exemplo de um adorador que se entregou completamente à alegria de servir ao Senhor, por ter recuperado a Arca da Aliança, que representava a presença de Deus junto ao povo naqueles dias. É comum pensarmos que a dança de Davi era uma sequencia de saltos e movimentos desordenados. Mas na verdade a palavra que designa a dança do rei indica movimentos coreografados, característicos das festas comunitárias oferecidas em louvor a Deus naquele período. Certamente Davi não dançou apenas naquela ocasião. Podemos afirmar isso porque em muitos de seus salmos há instruções para que se apresentem danças em louvor a Deus. O homem segundo o coração de Deus dançava na presença do Rei dos reis.

Iniciamos este estudo com uma citação de Sofonias, um dos profetas menores. No livro de Jeremias também encontramos uma linda promessa com relação à dança.
“Então a virgem se alegrará na dança, como também os jovens e os velhos juntamente; e tornarei o seu pranto em alegria, e os consolarei, e lhes darei alegria em lugar de tristeza”. Jeremias 31:13
Durante o exílio e a partir dele, a dança em louvor a Deus foi proibida pelos algozes. Inclusive há tradições orais que narram o surgimento de um passo de dança chamado “iemenita”. É uma rápida sequencia de movimentos com os pés que teria surgido no deserto: o único lugar onde se podia dançar para Deus era escondido no deserto, e a areia quente teria motivado esses passos ágeis.
Habacuque 3:18, Jeremias 31:13 e Sofonias 3:17 são apenas alguns exemplos de como a dança estava relacionada à promessa divina de dias melhores, em que haveria liberdade novamente para exaltar ao Senhor. O sacrifício de Jesus nos garante essa liberdade hoje. E junto com ela temos o direito e o privilégio de poder dançar novamente para celebras as vitórias, as colheitas, as alegrias da nossa vida, todas dadas a nós pela graça de Jesus, pelo amor que Deus tem por nós.
Dançar na presença de Deus e principalmente nos cultos que prestamos a ele tem todas essas funções sobre as quais falamos, e muito mais: ela atesta e declara diante de todos que somos livres! Se você faz parte do ministério de dança, celebre e nunca deixe de valorizar esse privilégio. Se você não faz parte de um ministério assim, não tem problema. Dance também!
"Não ofereçam os membros dos seus corpos ao pecado, como instrumentos de injustiça; antes ofereçam-se a Deus como quem voltou da morte para a vida; e ofereçam os membros dos seus corpos a ele, como instrumentos de justiça." Romanos 6:13

Silberling, Murray. Dançar de alegria: uma abordagem bíblica sobre louvor e adoração. São Paulo: Ed. Vida, 2009.
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